Pequeno dicionário afetivo para @s estrangeiro@s recém chegad@s no Rio para o Carnaval.
Ao chegar ao Rio de Janeiro você percebe logo que love is the air.
Ao chegar ao Rio de Janeiro você percebe logo que love is the air.
Especialmente se está vindo do
inverno europeu. Chato, frio e com poucas emoções epidérmicas.
Os arrepios só são os do frio. Aqui o ar
ferve.
As pessoas são cordiais, o mundo te
sorri. O povo ama.
Mas, ao chegar ao Rio de Janeiro
você também tem que saber que AMOR aqui é tudo e nada. Tem que aprender as várias nuances do amor e
lembrar que o beijo junto com o futebol é
o esporte nacional (sem ofensa). Por isso, se alguém te beijar na boca não
significa que esteja apaixonado por você. Também se te convidarem depois do
primeiro beijo a passar um final de semana juntos, isso não significa de jeito
nenhum que o convite vai rolar mesmo. Se trata mais de uma vontade genuína, mas
aleatória. A pessoa quer, só não sabe muito bem como, porque e em que dimensão
espaço temporal. Esclarecido isso vamos ao assunto central.
Para não sucumbir na selva das relações
da Cidade Maravilhosa e não achar que tudo é amor, você precisa dominar o
pequeno dicionário amoroso da língua portuguesa. Perdão, da língua brasileira.
Dominar esse dicionário, entender as diferenças te salva de decepção e
lágrimas.
Se você estiver saindo com alguém,
até repetidamente, mas nunca nos finais de semana, você, então, tem um ficante
e se considere tal. Um ficante é uma pessoa com a qual você se dá beijinho e
transa, mas também rola uma conversa e, se você comprar, um bom vinho, senão o
negócio é cerveja.
O ficante pode até chegar a ser seu/sua namorad@, só que o ritual no Brasil
passa por um pedido. Até quando ninguém pedir, você vai ficar no limbo. Claro que
você também pode pedir, mas se gostar mesmo, a estratégia melhor é esperar,
pois aqui no Rio de Janeiro o interesse desmancha rapidamente. A concorrência é
desleal e a escolha muito grande. Fazer pressão nessa cultura é uma postura que
não rola, assim como brigas diretas, que nós europeus tanto amamos, aqui
resultam desagradáveis, pois estamos submersos em uma cultura da
indiretividade. Por isso, dose a voz e meça o conteúdo das suas falas.
Quase esquecia de falar a coisa
mais importante: tanto o seu ficante, quanto você podem se relacionar a outras pessoas contemporaneamente que talvez não
cheguem a ter o mesmo nível de importância. Estes últimos são os peguetes.
Resumindo, o ficante é mais fixo e existe algum sentimento envolvido, que pode
ser simples empatia. Não espere necessariamente algo a mais.
Passamos aos recém mencionados, os peguetes. Os peguetes são pessoas que você pega de vez em quando, que chama no final da noite, para voltar para casa juntos, mas não quer passar tempo com eles. Por isso, se você receber uma mensagem às quatro da manhã de alguém dizendo que está com saudade, pare de ser sentimental ele/ela só está te convidando para um encontro sexual. Nada de mal, é só ter consciência e não acreditar que às quatro da manhã ele/ela está pensando em você porque te ama. Ele/ela não te ama, só não achou nada de melhor na noitada carioca e decidiu mandar mensagem para quem nunca diz não.
No meio disso pode rolar uma one night stand que sinceramente não sei
muito bem como se chamaria aqui, pois até se acontece parece um taboo. Quer
dizer se beija muito a toa e se transa pouco. A um beijo dado numa noitada não segue
necessariamente a continuação da noite. Mas saiba disso, se você for mulher e
dormir com um homem na primeira noite, não será bem vista, pois tendencialmente
a cultura carioca é muito machista. Você estará em uma lista anônima sem nenhuma
possibilidade de “ascenção”
a namorada. A microfísica do poder se exerce sobre os corpos, até sem tortura. Alguém
bem mais competente de mim dizia isso.
Por fim existe uma diferença
substancial entre namorado e noivo. O namorado é a pessoa com a qual você tem
uma história seria e oficialmente monogâmica. O noivo é a pessoa com a qual
você vai casar com certeza, pois teve uma festa oficial, o noivado, onde
trocaram a o anel de compromisso. Estas últimas duas fases são as menos
interessantes, pois até chegar aqui você deverá passar através das fases acima
mencionadas, se achando muitas vezes ficante em vez de peguete, ou namorado em
vez de ficante. Trocando tudo com tudo. Levando vários pés na bunda e dando
vário pés na bunda.
Falhando muito, fazendo os convites
errados para as pessoas erradas.
Mas tudo se aprende. Entre lágrimas, risadas e muita ironia.
Até o próximo capítulo.