venerdì 20 gennaio 2017

Pequeno dicionário afetivo da língua brasileira ou metafisica da ingenuidade.

Pequeno dicionário afetivo para @s estrangeiro@s recém chegad@s no Rio para o Carnaval.

Ao chegar ao Rio de Janeiro você percebe logo que love is the air.
Especialmente se está vindo do inverno europeu. Chato, frio e com poucas emoções epidérmicas.  
Os arrepios só são os do frio. Aqui o ar ferve.
As pessoas são cordiais, o mundo te sorri. O povo ama.

Mas, ao chegar ao Rio de Janeiro você também tem que saber que AMOR aqui é tudo e nada.  Tem que aprender as várias nuances do amor e lembrar que o beijo junto com o futebol é  o esporte nacional (sem ofensa). Por isso, se alguém te beijar na boca não significa que esteja apaixonado por você. Também se te convidarem depois do primeiro beijo a passar um final de semana juntos, isso não significa de jeito nenhum que o convite vai rolar mesmo. Se trata mais de uma vontade genuína, mas aleatória. A pessoa quer, só não sabe muito bem como, porque e em que dimensão espaço temporal. Esclarecido isso vamos ao assunto central.

Para não sucumbir na selva das relações da Cidade Maravilhosa e não achar que tudo é amor, você precisa dominar o pequeno dicionário amoroso da língua portuguesa. Perdão, da língua brasileira. Dominar esse dicionário, entender as diferenças te salva de decepção e lágrimas. 

Se você estiver saindo com alguém, até repetidamente, mas nunca nos finais de semana, você, então, tem um ficante e se considere tal. Um ficante é uma pessoa com a qual você se dá beijinho e transa, mas também rola uma conversa e, se você comprar, um bom vinho, senão o negócio é cerveja.
O ficante pode até chegar a ser seu/sua namorad@, só que o ritual no Brasil passa por um pedido. Até quando ninguém pedir, você vai ficar no limbo. Claro que você também pode pedir, mas se gostar mesmo, a estratégia melhor é esperar, pois aqui no Rio de Janeiro o interesse desmancha rapidamente. A concorrência é desleal e a escolha muito grande. Fazer pressão nessa cultura é uma postura que não rola, assim como brigas diretas, que nós europeus tanto amamos, aqui resultam desagradáveis, pois estamos submersos em uma cultura da indiretividade. Por isso, dose a voz e meça o conteúdo das suas falas.
Quase esquecia de falar a coisa mais importante: tanto o seu ficante, quanto você podem se relacionar a outras  pessoas contemporaneamente que talvez não cheguem a ter o mesmo nível de importância. Estes últimos são os peguetes. Resumindo, o ficante é mais fixo e existe algum sentimento envolvido, que pode ser simples empatia. Não espere necessariamente algo a mais.

Passamos aos recém mencionados, os peguetes. Os peguetes são pessoas que você pega de vez em quando, que chama no final da noite, para voltar para casa juntos, mas não quer passar tempo com eles. Por isso, se você receber uma mensagem às quatro da manhã de alguém dizendo que está com saudade, pare de ser sentimental ele/ela só está te convidando para um encontro sexual. Nada de mal, é só ter consciência e não acreditar que às quatro da manhã ele/ela está pensando em você porque te ama. Ele/ela não te ama, só não achou nada de melhor na noitada carioca e decidiu mandar mensagem para quem nunca diz não.

No meio disso pode rolar uma one night stand que sinceramente não sei muito bem como se chamaria aqui, pois até se acontece parece um taboo. Quer dizer se beija muito a toa e se transa pouco. A um beijo dado numa noitada não segue necessariamente a continuação da noite. Mas saiba disso, se você for mulher e dormir com um homem na primeira noite, não será bem vista, pois tendencialmente a cultura carioca é muito machista. Você estará em uma lista anônima sem nenhuma possibilidade de “ascenção” a namorada. A microfísica do poder se exerce sobre os corpos, até sem tortura. Alguém bem mais competente de mim dizia isso.

Por fim existe uma diferença substancial entre namorado e noivo. O namorado é a pessoa com a qual você tem uma história seria e oficialmente monogâmica. O noivo é a pessoa com a qual você vai casar com certeza, pois teve uma festa oficial, o noivado, onde trocaram a o anel de compromisso. Estas últimas duas fases são as menos interessantes, pois até chegar aqui você deverá passar através das fases acima mencionadas, se achando muitas vezes ficante em vez de peguete, ou namorado em vez de ficante. Trocando tudo com tudo. Levando vários pés na bunda e dando vário pés na bunda.
Falhando muito, fazendo os convites errados para as pessoas erradas.
Mas tudo se aprende. Entre lágrimas, risadas e muita ironia.

Até o próximo capítulo.