mercoledì 1 marzo 2017

Perdidos selvagens : como interpretar, fazer convites e lidar com sumiços no Rio de Janeiro

Acontece às vezes que na Cidade Maravilhosa um sim nem sempre é um sim.
Às vezes um sim é um não. Por isso ao fazer um convite e ao receber uma resposta afirmativa não pense que aquela pessoa aparecerá no lugar marcado, pois a cultura da indiretividade que rege as relações sociais no Brasil leva a evitar o conflito relacional: quase nunca alguém responderá não a um convite, apesar de ele/ela saber que não irá. As relações podem chegar a ser dramáticas, mas nesse caso trata-se sempre de um drama de paixão, enquanto no dia dia   
com as pessoas, no geral, evita-se o uso de alguns enunciados que a nível social podem ser classificados como despreferidos. A resposta negativa a um convite faz parte desses últimos. Um anedota que pode servir para entender o conceito de enunciados depreferidos: outro dia na Praia do  sono falei para um caiçara que aparentava os 40 e ele só tinha 32, foi um comentário ingênuo sem querer ofender, pois o cara até era bonito, mas a amiga brasileira que me acompanhava ficou com muita vergonha de mim. Socialmente no Brasil o avançar da idade não é bem aceite e bem vivido. O que eu tinha falado fazia parte dos enunciados a serem evitados. Com relação a aceitação ou recusa de convite existe, portanto, todo um código social complexo que precisa ser entendido e interpretado, senão você ficará esperando ao infinito uma pessoa ou acreditará que, quando ela fala para você não sumir, haja uma intenção real de continuar a falar com você. Nada disso.

Começando por um frasário básico da convivência social, quando você conhece uma pessoa tenha certeza de que todo o mundo vai querer ver você logo no domingo seguinte, vamos marcar uma praia pô, vamo marcar de se ver no final de semana, essas entre as frases mais batidas. Não cometa o erro ingênuo de chamar aquela pessoa para manter o programa combinado em palavras. Ela não está fazendo nenhum convite ou planejamento sério, com aquelas frases a pessoa só está expressando um prazer sincero em te ter conhecido. Parece que na cultura carioca resultaria muito pouco o simples se depedir, por isso usam-se frase convites” que, na verdade, têm a função de uma despedida mais carinhosa.

No ato de fazer convite existem diferenças marcadas se você fizer o mesmo para amigos ou para ficantes. Isso é fundamental saber, pois muitas amigas já me xingaram muitas vezes pela minha falta de técnica de amarração. O que também não me importa muito.

Partimos dos primeiros convites, aqueles que você faz para amigos ou recebe de amigos. A um convite seu para fazer alguma coisa, tenha certeza que nenhum amigo carioca responderá que não, ele/ela sempre dirá “Poxa amig@, quero muito ir, mas não sei não se vou conseguir, te ligo mais tarde para te confimar”, nesse caso ele já está te dizendo que não vai, não espere nenhuma ligação, não guarde comida, pois não virá. Só não tem graça para te dizer que não. Aos olhos dos cariocas dizer que não é como dizer que não gosta de você e por isso prefere deixar claro que gostaria muito, a falta já está implícita no “te ligo mais tarde”, ninguém vai se chatear nesse caso, pois todo o mundo teve como mostrar o seu afeto, quem convidou e quem, implicitamente, recusou o convite. Caso você aceite um convite para fazer alguma coisa, especialmente se for em casa, churrasco, almoços e quanto mais, saiba que não é preciso você respeitar a hora do convite, pois se você chegar na hora marcada muito provavelmente vai ser o primeiro, vivendo o embaraço da espera dos outros convidados. Caso contrário quando você marcar na sua casa, fale um horário que corresponde a duas horas antes ao horário em que você quer que as pessoas cheguem.

Aí vamos aos convites para ficantes ou resposta de convites a esses últimos. Se alguém com o qual você está ficando te convidar para sair, nunca responda logo sim, ou gostaria muito, ou também estou querendo (isso segundo às amigas expertas, eu faço exatamente o contrário). A resposta exata é reponder um genérico “pode ser”, pois desse jeito não vai mostrar um excesso de interesse e a espera daquele convite, mas também não vai recusar totalmente. Quanto ao convidar, tem que ser um genérico vamos fazer... como um let's inglês, um pouco como dizer podemos fazer isso juntos, mas também tem outras pessoas querendo, você não é a única opção. Senão vai aparecer um convite muito estruturado, o que não combina com uma relação entre ficantes.


Sobre sumiços. A palavra sumir, sumid@ ou aparecer especialmente utilizada no imperativo apareça com relação às pessoas aprendi aqui no Brasil. Pois, para mim podem sumir objetos e pode fazer aparição a virgem Maria, nunca pensei que pudessem sumir e aparecer pessoas.
Na verdade a ideia de sumir que muitas vezes se traduz em “Não suma, não” ou “Está sumid@são formulas que as pessoas no Rio usam para justificar um comportamento que eles vão ter, botando a culpa em você.
Partimos da primeira expressão, a ideia de “Não suma não” antecipa o fato que quem vai sumir é a pessoa que a pronunciou. De fato durante um tempo ela não vai te ligar e nem escrever mais, isso serve de alguma maneira a amenizar o possível sentido de culpa, portanto, muito melhor dividí-lo em dois. Em nenhum caso essa frase significa me escreva, ela é só uma formulação para colocar um distanciamento e terminar a conversa, adiando-a a um momento indefinido.


Vamos ao segundo caso: normalmente a frase “Está sumid@” é geralmente pronunciada quando você esbarrar em uma pessoa que do nada parou de falar com você e você nunca conseguiu entender o porquê. Às vezes passou dias se interrogando sobre a possível razão. Inútil perder a cabeça, esse comportamento não tem nada a ver com você, a maioria das vezes simplesmente, na época de tinder e de facebook, as pessoas consomem as relações como uma comida pre-cozida. Isso muito mais além da origem das pessoas, falamos de relações na época da globalização. Essa frase é usada de antemão para evitar que você faça alguma acusação ou fique perguntando porque ela desapareceu no nada. É uma forma para jogar direto a culpa em você, deixando entender que ele/ela nunca teria parado de procurar, não fosse você ter feito isso. Não se deixe roer pelos sentidos de culpa, pois é claro que quem sumiu foi ele/ela e não você.
Se depois a pessoa (nesse caso falamos de ficante) sumir no Carnaval, isso é mais do que normal e socialmente aceite aqui no Brasil, pois, o Carnaval é a margem que delimita o início do ano e das relações. O Carnaval é um limbo durante o qual, até o mais lindo relacionamento entre ficantes vai ter um empasse, uma paradinha, por assim dizer. Tenha certeza que na quarta-feira de cinza seu Whatsap vai começar a piscar de novo, com muitas pessoas reclamando seu sumiço. Nesse caso é bom lembrar que os cariocas (isso especialmente o macho heterossexual) têm algo em comum com o Lázaro: a capacidade de ressuscitar sempre. Se você não gostar dessa ressuscitação  de quarta feira de cinza, pode sempre convidá-los para o bloco de Carnaval de Santa Teresa “Me enterra na quarta” mandando-os sucumbir novamente nos ínferos de onde ressuscitaram.
Para concluir, a formulação Veja se aparece ou Apareça, se puder ou Tenta aparecer feita em um convite é uma forma que o carioca usa para marcar sem marcar, ele/ela não está fazendo nesse caso nenhum convite individual, muito pelo contrário ele/ela está fazendo um convite genérico. Se rolar de vocês se encontrarem nesse lugar e não tiver nada de melhor, é possível que vocês passem o tempo junto. Em caso nenhum interprete esse aparecer como uma vontade de a pessoa querer você no lugar onde ela vai estar.  

Existem mil e outras observações para serem feitas, mas o básico está aqui: marque sem marcar, aceite sem aceitar, recuse sem recusar.










venerdì 20 gennaio 2017

Pequeno dicionário afetivo da língua brasileira ou metafisica da ingenuidade.

Pequeno dicionário afetivo para @s estrangeiro@s recém chegad@s no Rio para o Carnaval.

Ao chegar ao Rio de Janeiro você percebe logo que love is the air.
Especialmente se está vindo do inverno europeu. Chato, frio e com poucas emoções epidérmicas.  
Os arrepios só são os do frio. Aqui o ar ferve.
As pessoas são cordiais, o mundo te sorri. O povo ama.

Mas, ao chegar ao Rio de Janeiro você também tem que saber que AMOR aqui é tudo e nada.  Tem que aprender as várias nuances do amor e lembrar que o beijo junto com o futebol é  o esporte nacional (sem ofensa). Por isso, se alguém te beijar na boca não significa que esteja apaixonado por você. Também se te convidarem depois do primeiro beijo a passar um final de semana juntos, isso não significa de jeito nenhum que o convite vai rolar mesmo. Se trata mais de uma vontade genuína, mas aleatória. A pessoa quer, só não sabe muito bem como, porque e em que dimensão espaço temporal. Esclarecido isso vamos ao assunto central.

Para não sucumbir na selva das relações da Cidade Maravilhosa e não achar que tudo é amor, você precisa dominar o pequeno dicionário amoroso da língua portuguesa. Perdão, da língua brasileira. Dominar esse dicionário, entender as diferenças te salva de decepção e lágrimas. 

Se você estiver saindo com alguém, até repetidamente, mas nunca nos finais de semana, você, então, tem um ficante e se considere tal. Um ficante é uma pessoa com a qual você se dá beijinho e transa, mas também rola uma conversa e, se você comprar, um bom vinho, senão o negócio é cerveja.
O ficante pode até chegar a ser seu/sua namorad@, só que o ritual no Brasil passa por um pedido. Até quando ninguém pedir, você vai ficar no limbo. Claro que você também pode pedir, mas se gostar mesmo, a estratégia melhor é esperar, pois aqui no Rio de Janeiro o interesse desmancha rapidamente. A concorrência é desleal e a escolha muito grande. Fazer pressão nessa cultura é uma postura que não rola, assim como brigas diretas, que nós europeus tanto amamos, aqui resultam desagradáveis, pois estamos submersos em uma cultura da indiretividade. Por isso, dose a voz e meça o conteúdo das suas falas.
Quase esquecia de falar a coisa mais importante: tanto o seu ficante, quanto você podem se relacionar a outras  pessoas contemporaneamente que talvez não cheguem a ter o mesmo nível de importância. Estes últimos são os peguetes. Resumindo, o ficante é mais fixo e existe algum sentimento envolvido, que pode ser simples empatia. Não espere necessariamente algo a mais.

Passamos aos recém mencionados, os peguetes. Os peguetes são pessoas que você pega de vez em quando, que chama no final da noite, para voltar para casa juntos, mas não quer passar tempo com eles. Por isso, se você receber uma mensagem às quatro da manhã de alguém dizendo que está com saudade, pare de ser sentimental ele/ela só está te convidando para um encontro sexual. Nada de mal, é só ter consciência e não acreditar que às quatro da manhã ele/ela está pensando em você porque te ama. Ele/ela não te ama, só não achou nada de melhor na noitada carioca e decidiu mandar mensagem para quem nunca diz não.

No meio disso pode rolar uma one night stand que sinceramente não sei muito bem como se chamaria aqui, pois até se acontece parece um taboo. Quer dizer se beija muito a toa e se transa pouco. A um beijo dado numa noitada não segue necessariamente a continuação da noite. Mas saiba disso, se você for mulher e dormir com um homem na primeira noite, não será bem vista, pois tendencialmente a cultura carioca é muito machista. Você estará em uma lista anônima sem nenhuma possibilidade de “ascenção” a namorada. A microfísica do poder se exerce sobre os corpos, até sem tortura. Alguém bem mais competente de mim dizia isso.

Por fim existe uma diferença substancial entre namorado e noivo. O namorado é a pessoa com a qual você tem uma história seria e oficialmente monogâmica. O noivo é a pessoa com a qual você vai casar com certeza, pois teve uma festa oficial, o noivado, onde trocaram a o anel de compromisso. Estas últimas duas fases são as menos interessantes, pois até chegar aqui você deverá passar através das fases acima mencionadas, se achando muitas vezes ficante em vez de peguete, ou namorado em vez de ficante. Trocando tudo com tudo. Levando vários pés na bunda e dando vário pés na bunda.
Falhando muito, fazendo os convites errados para as pessoas erradas.
Mas tudo se aprende. Entre lágrimas, risadas e muita ironia.

Até o próximo capítulo.